Repensar como lidar com o plástico é urgente. Nos últimos anos, o material foi elevado ao posto de vilão número um do meio ambiente, e outros materiais, como papel e papelão, tomados como soluções mais sustentáveis, sem uma análise aprofundada dos seus impactos significativos na natureza. A defesa do plástico tem um robusto argumento: além de resistente, maleável e durável, é infinitamente reciclável. Entre a vilania e a medalha de honra de solução da economia circular, portanto, está apenas a gestão logística do material.

 

A começar pelos aterros sanitários: diariamente, plásticos diversos são enterrados em abundância junto aos resíduos de grandes cidades. Essas áreas, tidas como passivos ambientais, são minas de ouro para empreendedores de reciclados. Já há projetos, hoje, para o garimpo de material plástico na remediação de aterros sanitários. Ainda assim, o mais viável do ponto de vista ambiental e econômico é o estímulo a processos de triagem dessas matérias-primas antes da disposição final.

 

São várias as ações possíveis – desde a reconhecida ação de perfil comunitário, que envolve o incentivo à coleta em locais como escolas, universidades, condomínios, centros religiosos e estabelecimentos comerciais, até a priorização de centros de coleta estrategicamente próximos a corpos hídricos, para reduzir o impacto nos oceanos. Há esforços também no sentido de qualificar e remunerar bem coletores, o que ajuda a aproximar do plástico a ideia de ativo econômico. Do lado da indústria, proliferam-se novas tecnologias de triagem mecanizada. 

 

Mesmo com os esforços em vários setores, o índice nacional de reciclagem está na casa ínfima de 3% – em outras palavras, 97% dos resíduos, entre os quais um gigantesco volume de matérias-primas viáveis, ainda seguem para lixões e aterros. Segundo dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2020, como o custo de 1 kg de lixo no aterro fica na casa de R$ 0,40 e como cada brasileiro produz, em média, mais de 1 kg de resíduo por dia, paga-se caro para enterrar dinheiro.

 

De volta ao plástico como matéria-prima, a indústria do processamento luta, antes de tudo, contra a ilógica inversão de subsídios públicos da área. O benefício, em vez de ir para o uso da resina reciclada, tem sido dado historicamente à poderosa indústria petroquímica.

 

Ainda assim, os empreendedores de reciclagem têm competido e conquistado espaço – agora, ainda mais, com o avanço das políticas ESG (sigla para Ambiental, Social e Governança). Muitas marcas do varejo estão migrando para essas indústrias. No mercado, já há solução para aplicação maciça do reciclado em embalagens secundárias e terciárias, como é o caso do filme que envolve diversas unidades de um produto, para fins de transporte e armazenamento, ou do resistente plástico bolha usado para proteger mercadorias.

 

Os benefícios vão além do que pode ser visto no ambiente: de acordo com um cálculo utilizado pelo mercado para medir o impacto positivo do plástico reciclado pós-consumo, a cada tonelada produzida é possível reduzir: 2 mil quilogramas de gases de efeito estufa; 1.190 litros de consumo de petróleo; 3.020 hWh de consumo de energia elétrica; 7.892 litros de consumo de água no total dos processos; e 1 mil quilos de plástico na natureza.

 

O ecossistema da reciclagem é resiliente e descentralizado, por não depender de apenas uma fonte. Mas, para que ele se fortaleça, são imprescindíveis políticas públicas e segurança jurídica. Em novembro de 2021, o Senado aprovou a primeira lei federal de incentivo à reciclagem no país: o PL 6.545/2019, que seguiu para sanção presidencial. A sociedade já está pronta e clama por mudança. Num futuro de modelos mais circulares, o plástico reciclado é uma matéria-prima essencial.

 

*Moisés Weber, diretor administrativo da Plastiweber